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A indústria brasileira que atua como fornecedora para a cadeia produtiva de petróleo e gás não concorda com a determinação do governo federal em alterar as regras da chamada Política de Conteúdo Local. Durante evento especial realizado nesta quinta-feira (23), na sede da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (FIERGS), em Porto Alegre, representantes de diferentes segmentos de atividades reforçaram seus argumentos, defendendo que o Brasil não abra mão de ações que estimulem o desenvolvimento das empresas nacionais ao invés de facilitar a importação de peças ou máquinas.

O presidente da FIERGS, Heitor José Müller, destacou que o olhar do governo para a atração de investimentos externos pode ser mais amplo do que especificamente possibilitar mais contratações estrangeiras nas compras da Petrobras. “É preciso também estimular que a indústria nacional cresça a partir de suas capacitações e qualificações próprias”, disse.

O coordenador do Comitê de Competitividade em Petróleo, Gás, Naval e Offshore (CCPGE) da FIERGS, Marcus Coester, reforçou o discurso, lembrando que, nos últimos anos, houve um imenso movimento, inclusive do próprio governo, para estímulo de novos polos navais, indústrias de equipamentos e componentes. “Aqui mesmo no Rio Grande do Sul, em Rio Grande, hoje, vive-se um dos piores cenários de retrocesso do setor com o fechamento de estaleiros e o desaparecimento de empregos fundamentais”, completou.

Em sua manifestação, o prefeito de Rio Grande, Alexandre Lindenmeyer, confirmou as informações e aguarda que algo possa ser feito para que os empreendimentos que fecharam em 2016 voltem a gerar empregos na região. Também esteve presente a prefeita de São José do Norte, Fabiany Zogbi Roig.

As informações de diversas entidades representantes da indústria nacional dão conta de que a cadeia fornecedora de petróleo e gás investiu mais de US$ 60 bilhões na implementação e ampliação da capacidade de produção para atender o setor. Somente no Rio Grande do Sul, são mais de 300 empresas capacitadas para compor a cadeia, desde sistemas de automação industrial, até equipamentos de segurança, máquinas, peças, entre outras.

O encontro na FIERGS, intitulado “Perspectivas para a indústria nacional com os próximos leilões e as novas regras do conteúdo local no Brasil para o setor de óleo e gás” foi uma promoção do Movimento Produz Brasil, uma coalizão de 14 entidades que representam cerca de 200 mil empresas, entre elas a própria FIERGS e as Federações das Indústrias de Minas Gerais, Bahia, Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo, além de associações setoriais, como Abinee e Abimaq, Abce, Abemi, Abitam, Instituto do Aço, Sinaval, AFBNDES, CNTM, Clube de Engenharia, Força Sindical, FUP e Sindipetro.

Entre os convidados, o diretor de Petroleo, Gás, Bioenergia e Petroquímica da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Alberto Machado, e o presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato, se posicionaram de forma veemente. “O conteúdo local não é responsável pelo aumento de custo”, disse Machado. Segundo ele, um exemplo, foi o que ocorreu em 2007 quando a Petrobras comprou 40 sondas. “Naquela ocasião, 12 delas eram importadas e elas chegaram atrasadas, gerando problemas nas operações. Ou seja, a indústria nacional pode, e deve, ser competitiva. É preciso estímulo”, avaliou.

Por parte do governo, o secretário de Desenvolvimento e Competitividade Industrial do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), Igor Calvet, e o secretário de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia (MME), Márcio Felix Bezerra, pontuaram as necessidades que a União possui em ultrapassar a crise econômica e ajustar suas próprias contas para que possa retomar ritmo de ações de desenvolvimento. “Infelizmente, é preciso passar esse período de esforço para voltar a crescer. O MDIC está de acordo que o país será forte quando a indústria se fortalecer também”, afirmou Calvet.

Bezerra, por sua vez, traçou o perfil do cenário mundial do setor e afirmou que os problemas estão presentes em toda a cadeia mundial, com preços de petróleo baixos, que acentuaram os problemas financeiros da Petrobras.

Crédito foto: Dudu Leal

 

Publicado quinta-feira, 23 de Março de 2017 - 19h19