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A educação na economia do conhecimento

"Precisamos preparar o ambiente de ensino para a economia do conhecimento. A maioria das escolas do mundo ainda capacitam seus alunos para a economia industrial com base no século 19". A afirmação é da consultora externa para a Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico (OCDE) a alemã Hanna Dumont − uma das palestrantes do painel Educação: Novos fluxos do conhecimento, realizado na manhã desta quarta-feira no 4º Congresso Internacional de Inovação, promovido pelo Sistema FIERGS. Casos e modelos de modernização educacional foram apresentados durante o encontro, mediado por Rafael Lucchesi, diretor de Educação e Tecnologia da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Hanna destacou os resultados de uma pesquisa da OCDE sobre princípios de aprendizado em projetos inovadores de educação desenvolvidos em países como México, Chile, Finlândia e Hong Kong. Entre as conclusões está a importância da centralidade do ensino no aprendiz, que também deve ser responsável pelo monitoramento e organização de seu próprio processo de aprendizado; trabalho cooperativo; avaliação não apenas do resultado do aluno, mas dos processos de ensino; além da mistura de grupos de diferentes idades, de acordo com interesses.

Um exemplo dessa realidade é a Escola da Ponte, de Portugal, criada por José Francisco de Almeida, um dos palestrantes do painel. Por lá, o critério de formação das turmas é afetivo, de acordo com os interesses comuns entre os estudantes, sem regras, provas, notas e horários e a instituição atinge os melhores níveis em avaliações do país. "Não somos homogêneos cada um tem seu ritmo, seus interesses", analisa. Almeida também ressaltou a importância de o Brasil deixar de buscar exemplos de fora e conhecer as experiências nacionais. "Há muitas escolas brasileiras tão inovadoras quanto a da Ponte, mas são pouco divulgadas, não recebem o apoio do MEC", reforça Almeida com a propriedade de quem há dez anos estuda a realidade educacional brasileira. "Caso não haja mudança, o País seguirá com índices como o de quatro milhões de analfabetos funcionais". O professor da Universidade de Illionois Christopher Lubienski ressaltou que muitas escolas no mundo modernizaram a gestão, marketing, governança, mas mantém os mesmos modelos de ensino. "Para conquistar alunos, as escolas tendem a manter o modelo de educação que os pais tiveram e imaginam que esse seja o melhor para os seus filhos", afirma Lubienski.

A visão industrial foi dada por Ricardo Felizzola, vice-presidente do Centro das Indústrias do Rio Grande do Sul e coordenador do Conselho de Inovação e Tecnologia da FIERGS, e Mathias Elter, diretor da FIERGS e diretor regional na Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). "O primeiro passo é medir o desempenho para que se possa mudar a realidade. Pesquisas como o PISA e o próprio Enem são importantes. Aquilo que não se mede, não se consegue modificar", ressalta. Elter destacou que as indústrias investem muito em tecnologia, mas agora o grande desafio é contar com profissionais capacitados, já que o problema começa na educação básica. "Os países do BRIC serão os que mais vão sofrer com o apagão de mão de obra para sustentar seu crescimento", avalia.

O painel também contou com a presença do presidente do Instituto Alfa e Beto, João Batista de Araújo e Oliveira, que apresentou alguns dados referentes ao Programa para Avaliação Internacional de Estudantes (PISA). Nancy Cardoso Pereira, assessora da Secretaria de Educação do RS, destacou a intenção do governo estadual em reformular a educação. "Queremos continuar o diálogo com a FIERGS a partir desse Congresso para que entidade contribua na construção da política estadual de ensino gaúcha", finalizou Nancy.

Publicado quarta-feira, 16 de Novembro de 2011 - 0h00