A fraca demanda interna foi avaliada pelos empresários como o principal entrave que manteve a produção industrial gaúcha praticamente estável em março e no primeiro trimestre de 2024. O índice de produção registrou 50,3 pontos. O resultado está na pesquisa Sondagem Industrial do RS, divulgada nesta segunda-feira (29) pela Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (FIERGS), que apontou ainda Utilização da Capacidade Instalada (UCI) abaixo do usual e estoques em níveis excessivos. “Além da demanda, a elevada carga tributária, a falta ou o alto custo da mão de obra qualificada, os juros elevados e a insegurança jurídica também são apontados como dificuldades que fazem o empresário manter cautela e segurar investimentos”, diz o presidente da FIERGS, Gilberto Porcello Petry.
O presidente da FIERGS lembra ainda que, com tal cenário, as condições financeiras das empresas se deterioraram e as expectativas dos empresários ficaram menos otimistas em março. Mesmo que a produção industrial gaúcha tenha registrado pequena alta, é quase uma estabilidade relativamente a fevereiro, pois está muito próxima de 50 pontos, marca que separa crescimento de queda. O desempenho da produção ficou abaixo do esperado para o mês, que tem como média histórica 52,8 pontos.
A única notícia positiva do mês foi o emprego, que em março registrou a segunda alta consecutiva, após cair ininterruptamente entre outubro de 2022 e janeiro de 2024. O índice do mês foi de 51,4 pontos, valor acima da sua média histórica (50,1) para o mês, mostrando ser a estabilidade o comportamento esperado entre os meses de fevereiro e março.
Em relação à utilização da capacidade instalada (UCI), a indústria gaúcha utilizou 70% dela no mês passado, repetindo o grau médio de fevereiro e próximo do padrão histórico (70,7%) para março. Os empresários, contudo, a consideraram abaixo do normal. O índice de UCI em relação à usual registrou 44,4 pontos, mas abaixo de 50, mostra UCI inferior ao normal. Porém, é o maior valor em um ano. Isso revela que a utilização foi, em março, na avaliação dos empresários, a mais próxima do normal nos últimos 12 meses. Os estoques de produtos finais permaneceram em alta no período, acima do planejado pela indústria gaúcha. O índice de evolução mensal ficou em 52,7
pontos. Acima dos 50, significa nova expansão. Já o índice de estoques em relação ao planejado registrou praticamente o mesmo que em fevereiro: 51,5. Ou seja, continuam acima do planejado pelas empresas.
No bloco trimestral da Sondagem, os empresários revelaram que dois dos três principais problemas enfrentados pelo setor nos três primeiros meses de 2024 permanecem os mesmos desde o terceiro trimestre de 2023. A demanda interna insuficiente está em primeiro lugar há cinco trimestres, com 40,2% das menções (39,4% no anterior). Seguida pela elevada carga tributária, que ganhou 6,6 pontos percentuais na comparação com o último trimestre de 2023, passando de 32% para 38,6%. Mas a falta de trabalhador qualificado foi o terceiro maior obstáculo e o que mais cresceu no período: 7,4 pontos percentuais, para 22,3%, o maior percentual desde o primeiro trimestre de 2015.
EXPECTATIVAS
A pesquisa da FIERGS, realizada com 184 empresas (40 pequenas, 66 médias e 78 grandes) entre 1º e 9 de abril, aponta ainda que para os próximos seis meses as expectativas dos empresários também foram afetadas pelo cenário mais desfavorável, registrando quedas em todos os índices na comparação com março. A demanda recuou de 56 para 54,7 pontos; compras de matérias-primas, de 54,9 para 52,2 pontos e de exportações, de 53,5 para 50,3 pontos. Todas seguem no campo positivo, ao contrário da redução projetada pelos empresários gaúchos no emprego (de 52,8 para 49,5 pontos).
Com o menor otimismo em abril, a indústria do RS se mostra menos disposta a fazer investimentos. O índice de intenção recuou 1,7 ponto na pesquisa de abril na comparação com março e ficou em 52,5, valor ainda 1,1 ponto superior à média histórica, mas também o mais baixo em cinco meses. No mês passado, 55,7% das empresas mostravam disposição de investir no semestre seguinte (eram 58,1% em março).