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Cenário de incertezas e medidas fiscais fragilizam a indústria gaúcha, alerta a FIERGS

A indústria brasileira passa por um momento delicado. Sua carga tributária é a mais alta entre os setores da economia. Se a soma dos impostos no País supera 34% de todo o Produto Interno Bruto (PIB), na indústria ela alcança 46,7% do PIB do setor, ou 57,3%, levando-se em conta apenas as atividades de transformação. Não é só isso. Na tentativa de alcançar um superávit fiscal de 1,2% do PIB em 2015, o governo federal tem posto em marcha um ajuste que se dá principalmente pelo aumento de suas receitas. Entre as medidas já anunciadas estão a majoração do IPI de veículos novos, do IOF, do PIS/Cofins e da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide). “Todos estes elementos fragilizam a já debilitada indústria. Com mais impostos, elevação dos juros e retirada dos incentivos, retomar o crescimento em 2015 está se tornando uma missão impossível”, alerta o presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (FIERGS), Heitor José Müller.
 
Além das medidas oficializadas, há a expectativa de um aumento da tarifa de energia elétrica para as indústrias da região Sudeste, a ser anunciado nos próximos dias. Outro fator que preocupa é a escalada dos juros: a Taxa Selic está em 12,25%, mas poderá chegar a 14% ao final de 2015.
 
O presidente da FIERGS ressalta que, em 2014, a indústria brasileira apresentou queda de 3,2% na produção. No Rio Grande do Sul, a retração foi ainda maior: 4,3%. Segundo Müller, o setor no Estado apresentou em dezembro de 2014 o mesmo volume de produção de 12 anos atrás. A série com ajuste sazonal encontra-se no mesmo nível de setembro de 2002. O  Índice de Desempenho Industrial divulgado pela entidade este mês revelou que  apenas a massa salarial apresentou elevação no ano passado. Todas as demais variáveis, como faturamento, compras e horas trabalhadas, tiveram retração. “Há uma queixa generalizada e isso significa que teremos um 2015, já demonstrado nesse mês e meio que passamos, muito mais difícil do que 2014, com reais possibilidades de a economia brasileira encerrar o ano no negativo”.
 
Para tentar ao menos amenizar a difícil situação, Heitor José Müller sugere algumas saídas. “Precisamos de mais parceiros internacionais para a indústria brasileira. O governo tem que abrir as portas para negociarmos melhor com os Estados Unidos e a Comunidade Europeia, porque não podemos continuar a vender só para a Argentina e países da América Latina. É necessário abrir novos mercados e fazer diferentes acordos comerciais”, sugere. Outras medidas destacadas pelo presidente para ajudar o País a sair da crise são a redução do Custo Brasil e das despesas do governo, além de ações para o aumento na competitividade da indústria. “Nossos trabalhadores produzem menos que os de outros países. Precisamos realmente pensar no futuro e no treinamento dos profissionais. O Senai, entidade que administramos, está fazendo um upgrade, com melhorias em todas as suas escolas. Mas temos também que qualificar a educação fundamental, porque está muito defasada. Recebemos alunos no Senai com pouco preparo. Primeiro temos de passar um bom tempo ensinando a eles o que não aprenderam na escola, como informática e inglês, por exemplo”, observa.
 
Publicado quinta-feira, 19 de Fevereiro de 2015 - 15h15